Durante a pandemia da Covid-19, o setor da Comunicação Corporativa se tornou cada vez mais desafiador com o aumento das incertezas do período, que alteraram os canais e a forma convencional de se comunicar. O cenário pandêmico exigiu que os gestores adaptassem suas estratégias para garantir a efetividade mesmo à distância.
Essa instabilidade mundial em conjunto com a acelerada transformação digital trouxe à tona a definição de Mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible), termo criado em 2018 para substituir o Mundo VUCA (Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous), que se popularizou na área corporativa nos anos 2000.
No período pós-Guerra Fria, o conceito VUCA surgiu com a percepção de que o mundo era volátil, incerto, complexo e ambíguo. O termo era empregado para descrever a velocidade em que as mudanças tecnológicas e culturais estavam ocorrendo na sociedade, remetendo à imprevisibilidade.
No ambiente corporativo, esse conceito se popularizou quando as transformações tecnológicas atingiram fortemente as empresas, com destaque para a presença do universo digital, que na época estava em ascensão.
Entretanto, em 2018 o antropólogo e futurista americano Jamais Cascio observou que o Mundo VUCA era um conceito obsoleto para a atualidade, e enxergar o mundo somente pela volatilidade e pela complexidade já não era o suficiente. Deste modo, criou-se uma nova definição de mundo chamada de BANI, definido como Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível.
A instabilidade instaurada pela pandemia acelerou muitas transformações, principalmente a digital, que fez com que o termo Mundo BANI refletisse melhor a realidade da sociedade e das empresas. A ideia de estar suscetível a catástrofes a qualquer momento e que se vive em um mundo cujos eventos parecem desconectados, sem uma estrutura bem definida e padronizada, faz parte desse novo conceito que pode ser aplicado na Comunicação Corporativa.
De acordo com Juan Pablo Leymarie, diretor de Recursos Humanos da NIVEA, a pandemia causou um grande impacto inicial na Comunicação Corporativa, que teve que lidar com a instabilidade de um cenário que, à primeira vista, ele achava que duraria apenas algumas semanas.
“Pela primeira vez, nos vimos distantes de nossas equipes no dia a dia e percebemos que era o momento de transformarmos a falta que sentíamos uns dos outros em cuidado e afeto, mesmo à distância. A preparação precisou ser rápida e eficiente, sendo assim, otimizamos os canais os quais já tínhamos disponíveis, como nossos comunicados, nossa intranet e nossa comunidade no Yammer. Ainda, os encontros virtuais se tornaram uma realidade frequente com a participação de toda a companhia”, afirma Juan Pablo Leymarie.
Devido às circunstâncias, as áreas de comunicação cresceram e passaram a ser mais valorizadas em empresas de todos os tamanhos. “O próprio ato de se comunicar ganhou espaço de destaque como soft skill no ambiente profissional e relevância no âmbito pessoal, uma vez que os canais de relacionamento entre pessoas e marcas mudaram drasticamente devido ao isolamento social”, afirma Sheila Pessoa, gerente de Comunicação Corporativa da Electrolux América Latina.
A transição do Mundo VUCA ao Mundo BANI mostrou que o poder de adaptação é intrínseco na Comunicação Corporativa. “A área de Comunicação teve um papel crítico em todas as organizações”, afirma Fabrício Costa, Gerente de Comunicação e Responsabilidade Social da AstraZeneca.
“Fomos demandados a todo momento, tendo a incerteza do amanhã. Isso nos desafiou diariamente e trouxe aos holofotes a importância de termos um trabalho ainda mais integrado com a área de Recursos Humanos, Presidência e demais envolvidos. Vivemos em constante mudança, e ser flexível faz toda a diferença”, completa.
A obrigatoriedade do distanciamento social exigiu que a Comunicação Corporativa se reinventasse e entregasse eficiência acima de tudo. Com todas as incertezas desse período de transição do Mundo VUCA ao Mundo BANI, o gestor da Nivea afirma que demonstrar mais presença aos colaboradores foi a maior estratégia.
“Na Beiersdorf, holding alemã detentora das marcas NIVEA e Eucerin, temos o propósito ‘Cuidado Além da Pele’ como parte de nossa essência, afinal, o cuidado começa de dentro para fora, com as nossas pessoas. Portanto, nosso intuito era mostrar que estávamos presentes e que nos importamos com cada um de nossos colaboradores. Um exemplo bonito que tivemos foi o projeto Nosso Convite, em que periodicamente celebramos as conquistas dos times, valorizamos nossos talentos, inserimos as famílias em atividades como concursos, aulas de dança e culinária, afinal, estávamos todos trabalhando de casa”, explica.
No início, foi preciso agir rápido para transmitir aos colaboradores o sentimento de segurança e gerar engajamento. “Dois fatores foram determinantes para um processo de comunicação relevante, assertiva e engajadora: uma análise de cenário apurada para a tomada de decisão e uma comunicação que coloca as pessoas em primeiro lugar, em um período que o bem-estar físico, emocional e psicológico continua sendo fundamental para a Electrolux”, completa Pessoa.
A comunicação via liderança e com um tom extremamente humano ajudou a garantir que a mensagem chegasse a públicos internos distintos, desde o administrativo até o de operações. “Na Electrolux criamos o conceito Nosso Cuidado Transforma, inspirado em nosso propósito de transformar a vida das pessoas para o melhor. Foi dessa forma que nós buscamos englobar todas as comunicações e iniciativas em torno das decisões tomadas durante a pandemia, além da criação de um comitê de crise”, explica Sheila Pessoa.
Garantindo engajamento
Apesar de a distância física entre os times ser algo que não havia sido vivenciado antes, Leymarie afirma que hoje a equipe já está perfeitamente adaptada e a comunicação, que é essencial, é feita com eficiência. Portanto, a busca por adaptação e capacitação tecnológica nesse período ajudou a prevenir que a empresa se sujeitasse a falhas.
“Para manter a comunicação e garantir o engajamento, a estratégia essencial foi aproveitar o melhor dos nossos canais virtuais já existentes. O WhatsApp se tornou uma ferramenta muito mais ativa no nosso dia a dia, assim como o LinkedIn, que foi uma forma de nos conectarmos com nossa comunidade e com pessoas que, assim como nós, estavam passando pelos mesmos desafios em suas empresas. Buscamos surpreender com formatos diferentes e acompanhamos com frequência o engajamento de nossos times”, explica.
O capital humano tem sido cada vez mais importante para as organizações, especialmente para a área de comunicação, que ganhou seu respeito e visibilidade durante a pandemia. Saber o melhor canal e a melhor forma de se comunicar com esse público traz bons resultados de engajamento para a companhia. “A necessidade de comunicar com mais frequência, em um cenário volátil, integrou as áreas, o que abriu caminhos para uma tratativa mais humana por canais que antes tinham uma função mais administrativa”, completa Pessoa.
Fonte: www.portaldacomunicacao.com.br