A sigla ESG está em inglês e refere-se aos pilares de Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança, em português). Não é uma novidade, já que o ano era 2005 quando o diplomata ganês, Kofi Annan, então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), anunciou a criação de um selo com as letras.
Tempos depois, em 2019, um documento assinado por 181 CEOs das maiores corporações do mundo se comprometeu a dar prioridade ao desenvolvimento sustentável. Era a força que faltava para que os critérios ESG passassem a ganhar peso na operação de qualquer atividade do mundo corporativo.
No âmbito da comunicação, o assunto se faz presente de forma ampla, que contempla ações tanto externas quanto internas. Foi sobre esse segundo grupo de atuação que buscamos bons exemplos de aplicações dessas premissas – e, também, os seus resultados.
“O primeiro ponto é entender qual é a mudança esperada”, pontua a gerente sênior de Comunicações da Unisys, Mariana Lemos, destacando que, em seguida, é preciso estabelecer uma estratégia, objetivos, metas, táticas e trabalhar a cultura ESG como um projeto. E alerta: “os resultados não virão da noite para o dia”.
Cansados do blá-blá-blá
A executiva de comunicação da Unisys acredita que um ponto essencial é a transparência de toda essa operação. “Se a empresa ainda não tem a tal cultura de ESG, o projeto de comunicação fica mais complexo ainda, porque depende da criação de uma consciência coletiva e da mudança de mindset”, explica.
Nesse conjunto, ter porta-vozes oficiais para falar sobre o tema ajuda a mostrar sua importância para o público interno. A partir daí, é preciso construir e disseminar as mensagens por meio dos mais diversos canais de comunicação, dos óbvios aos mais criativos.
“O trabalho também exige constância, pois só assim existirá uma presença que influencia na mudança de comportamentos e pensamentos do público interno”, diz.
Se ESG passou a ser algo relevante para a empresa agora, é preciso destacar isso e dizer o porquê. Se é algo antigo, na visão de Lemos, mas que precisa estar em maior evidência por meio da comunicação, também é legal divulgar as razões disso.
“As pessoas estão cansadas de blá-blá-blá; elas querem cada vez mais exemplos, resultados e propósito – toda a estratégia de comunicação tem que levar isso em conta para ser bem-sucedida”, afirma.
Ferramenta-chave na mudança do mindset
Apesar de existirem outras divulgações dessa linha de pensamento, o termo passou por recente popularização a partir da obra Mindset, a nova psicologia do sucesso, escrito pela professora de Psicologia da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Carol S. Dweck.
Levando em conta que o termo, em uma tradução livre do inglês, pode se referir à maneira como está configurada a sua mente, mudar esse cenário significa promover uma profunda alteração na mentalidade sobre algum tema ou atitude.
Para a gerente global de Comunicação Corporativa da Votorantim Cimentos, Bruna Lima, a comunicação interna é uma ferramenta-chave para informar, estimular e engajar os empregados a entenderem as práticas e como eles estão inseridos nesse contexto. “As pessoas se engajam apenas com aquilo que elas conhecem”, cita.
A comunicação, complementa, tem papel fundamental na disseminação do ESG, bem como na explicação de como esses princípios geram valor ao negócio, às pessoas e ao planeta.
Na sua visão, é importante, primeiramente, que a liderança da empresa entenda os compromissos ambientais, sociais e de governança. Em seguida, os gestores devem liderar e ser protagonistas desses temas com seus times. Alinhar as práticas e resultados às entregas dão mais sentido ao dia a dia do empregado e geram conexão.
“A comunicação interna precisa atuar junto às áreas da empresa para fortalecer o tema não só nos canais, mas também no discurso e na prática dos líderes”, explica.
Utilizando os canais adequados
Para tratar da temática de conscientização LGBTQIA+, a equipe de comunicação interna da Nexa Resources foi além dos muros da empresa de mineração e metalurgia.
“Se a gente deixa a coisa muito interna para esses temas, eles vão perdendo força – são assuntos que extrapolam essas barreiras”, comenta a head de RH da Nexa Resources, Lívia Desenso. “Ganhamos grandes apoiadores, inclusive, dentro das casas”, complementa.
No caso citado, os conteúdos expostos tiveram a participação de pessoas capacitadas para expandir a consciência sobre o assunto.
“Tivemos relatos de filhos que assistiram essas ações junto com os pais e que conseguiram ampliar essa experiência, falando pela primeira vez sobre esse assunto com eles”, conta.
Temáticas sociais e de meio ambiente são trabalhadas pela comunicação com o objetivo de chegar em outras pessoas além das equipes – seus cônjuges, filhos e amigos, fomentando as discussões sobre esses pilares.
Uma ferramenta cada vez mais utilizada é a plataforma de compartilhamento de vídeos TikTok e o Instagram. “São canais que conectam com públicos mais jovens, que são os grandes embaixadores dessas questões – não adianta fazer só via comunicação corporativa e e-mail”, alerta.
Na opinião de Lemos, da Unisys, uma vez que os objetivos e as estratégias estejam bem estabelecidos, é possível construir um calendário tático e disseminar as mensagens por meio de eventos internos, competições, histórias dos colaboradores, relatórios de ESG, vídeos das lideranças, treinamentos etc. “O céu é o limite”, brinca.
“Para disseminar a cultura, é preciso construí-la – e essas duas coisas podem, sim, coexistir, mas exclusivamente de maneira clara e transparente”, conclui.
Fonte: www.portaldacomunicacao.com.br