Na era das IAs, o que muda na comunicação interna com a chegada da Geração Alfa às empresas?

comunicação interna e geração alfa

Eles cresceram pedindo respostas à Alexa, deslizando telas e confiando na inteligência artificial para esclarecer dúvidas. Mas dominar a tecnologia não é o mesmo que saber pensar estrategicamente com ela – e essa pode ser a grande armadilha da Geração Alfa no mercado de trabalho. Ainda adolescentes, muito em breve esses nativos digitais começarão a ingressar nas empresas como jovens aprendizes e estagiários, trazendo na bagagem uma relação automatizada com a informação. Se o Google virou quase um sábio que tudo sabe, a IA promete ser a profetiza dos novos tempos aos olhos dessa juventude – o que demandará preparo das empresas. E como tudo fica mais fácil “dialogando”, é natural que a comunicação interna desempenhe um papel crucial nesse cenário, garantindo não apenas a conexão da Geração Alfa com a cultura organizacional, mas o desenvolvimento de seu senso crítico.

Como alerta a gerente de Comunicação Corporativa da Progic, Cleide Cavalcante, essa é uma geração que cresceu confiando cegamente em respostas automatizadas, entregues por IAs das mais diversas, sem questionar a precisão ou o contexto dessas informações. E o risco é que esses jovens simplesmente repliquem essa conduta no ambiente de trabalho, o que seria natural e esperado. Afinal, se tudo pode ser resolvido com um clique, não haveria razão para fazer diferente. O problema vem depois, pois esse “sim” às IAs também representa um “não” retumbante ao pensamento crítico. Pronto, esse é o tsunami que está por vir, e as empresas que não se prepararem agora podem descobrir tarde demais que perderam o timing.

Comunicação interna e Geração Alfa
Cleide Cavalcante, da Progic

O desafio da Geração Alfa na comunicação interna

Bill Gates já dizia que o segredo do sucesso está em detectar para onde o mundo está indo e chegar lá primeiro. Isso significa ser visionário o suficiente para (re)imaginar o futuro e, ao mesmo tempo, realista o bastante para antecipar os desafios que virão. Antecipação e adaptação são as chaves para a sobrevivência das organizações, algo que elas precisam encarar com seriedade ao fortalecerem sua gestão de pessoas.

E quando o assunto é comunicação interna, a Geração Alfa surge como um desafio inadiável: prestes a ingressar no mercado, ela traz consigo novas formas de interagir, consumir informação e se relacionar com o trabalho. Ou seja, não se preparar agora pode custar caro mais adiante – e ninguém quer ficar para trás. Se antes o desafio era integrar diferentes gerações dentro das empresas, agora a questão é outra. Como bem pontua Cleide, o problema não é mais a convivência entre pessoas de diferentes idades, mas a forma como cada uma delas interage com a tecnologia. E o que surpreende é que essa relação nem sempre segue a lógica esperada. “A gente parte do pressuposto de que os mais jovens sabem tudo de tecnologia, mas não é bem assim. Hoje, eu vejo profissionais mais velhos que estudaram IA e sabem usá-la estrategicamente, enquanto muitos jovens sequer entendem o que é um prompt”, observa Cleide.

Integração e ajuste de expectativas

Sem dúvida, a Geração Alfa desperta uma série de reflexões que vão além do uso de tecnologia, começando pela forma como esses jovens chegarão às empresas. Cada geração tem suas próprias formas de lidar com mundo e expectativas. Como bem lembra Renata Horta, diretora de Gente e Gestão da Farmax, o colaborador traz consigo seus próprios modelos mentais (baseados nas vivências e observações), dúvidas e inseguranças. “O que muda na Geração Alfa é a exposição excessiva a informações. Jovens hiperconectados, vivendo em um contexto que mistura vida real com vida ideal, gerando expectativas desalinhadas e – na maioria das vezes – inatingíveis”, destaca.

Comunicação interna e Geração Alfa
Renata Horta, da Farmax

Nesse sentido, segundo Renata, a comunicação interna tem o poder de acolher e alinhar essas expectativas, aproximando a Geração Alfa dos valores e práticas da empresa. “A nova geração valoriza empresas com propósito claro e comunicação transparente”, observa. Na visão dela, cabe à área de comunicação aproveitar os formatos que os jovens já consomem para transmitir mensagens que garantam não só alinhamento, mas também a compreensão de cultura. A integração desses jovens colaboradores começa por aí.

As gerações e a tecnologia – diversidade é oportunidade

Ao contrário do que muitos imaginam, não é porque alguém nasceu praticamente com um celular na mão que sabe usar a tecnologia a seu favor. E é justamente nessa lacuna que a comunicação interna precisa atuar, criando espaços de troca de conhecimento para evitar que a Geração Alfa seja apenas uma consumidora passiva da tecnologia.

Com isso em mente, a diretora-executiva de Gestão de Pessoas na Zenvia, Katiuscia Teixeira, vê a diversidade — tanto de pessoas quanto de perspectivas — como uma oportunidade essencial para a comunicação interna conectar a Geração Alfa a diferentes perfis dentro da empresa. “Idade não define capacidade – valorizamos cada pessoa como única e acreditamos que todos têm algo a aprender e, também, a ensinar”, afirma.

Comunicação interna e Geração Alfa
Katiuscia Teixeira, da Zenvia

Essa troca, segundo ela, é o que fortalece uma cultura de aprendizado contínuo e feedback aberto. Criar espaços onde diferentes gerações compartilhem conhecimentos e experiências não apenas amplia a colaboração, mas também garante que a evolução da empresa aconteça de forma integrada, sem barreiras geracionais. “Esse é o caminho também para a cultura organizacional: sair dos silos (o que também se aplica às gerações) e olhar cada pessoa com sua capacidade única de contribuição e aprendizado”, conclui.

Uso estratégico da IA, Geração Alfa e pensamento crítico

Na Zenvia, como a IA já faz parte do dia a dia por se tratar de uma empresa especializada em Customer Experience (CX), algumas estratégias já estão em curso para garantir que seu uso seja, de fato, estratégico. Lilian Lima, vice-presidente de Tecnologia, reconhece que esse é um grande desafio, mas acredita que a chave para destravar essa questão está na educação e na experimentação. “Temos pílulas de segurança da informação e treinamentos interativos para ajudar os Humanz a compreender a necessidade de analisar cada situação para tomar decisões assertivas”, explica.

E essa conscientização acontece de diferentes formas por lá, desde iniciativas voltadas para a construção de prompts até ações mais lúdicas, como a criação de personagens para concursos culturais e o desenvolvimento de projetos em hackathons. Nessas experiências, o apoio de especialistas permite que os participantes gerem insights valiosos e percebam, na prática, o impacto do uso bem direcionado da IA.

Segundo Lilian, o incentivo ao pensamento crítico começa desde o básico, como na análise de risco ao acessar sites, onde os colaboradores recebem um aviso e podem decidir se seguem ou não. E o mais interessante é que essa postura vem de cima, do próprio CEO, que faz questão de reforçar essa mentalidade. “Assim, vemos a criação de um ecossistema que enxerga a inteligência artificial como uma facilitadora, e não como substituta de tarefas, sem pensamento crítico ou autonomia”, destaca.

Comunicação interna e Geração Alfa
Lilian Lima, da Zenvia

Comunicação interna para a Geração Alfa: dinâmica, descentralizada e conectada à nova realidade

A bem da verdade, o que funciona hoje pode não ser tão eficaz amanhã – e imagine quando a Geração Alfa estiver totalmente inserida no mercado de trabalho. Diante desse cenário, é possível criar um modelo de comunicação interna flexível o suficiente para se conectar às novas gerações? A resposta não é simples, mas Katiuscia Teixeira, da Zenvia, acredita que a chave está em combinar tecnologia e uma cultura adaptável. “Trabalhamos com ciclos curtos de aprendizado e experimentação, revisitando constantemente nossas práticas para garantir que estejam alinhadas às mudanças do mercado e do perfil dos colaboradores”, explica.

O grande desafio é conseguir respeitar as expectativas dessa nova geração sem perder de vista a cultura organizacional. Se a conectividade molda a forma como esses jovens interagem no dia a dia, a comunicação interna precisa, sim, acompanhar esse movimento. Para isso, ela deve ser acessível, simples, interativa e personalizada. Na Zenvia, por exemplo, há uma série de iniciativas para tornar a comunicação interna mais fluida e adaptada ao perfil da Geração Alfa. Entre os recursos disponíveis estão uma rede social interna, onde os colaboradores compartilham ideias; uma intranet para informações institucionais; ferramentas de comunicação para mensagens; além de newsletters semanais para colaboradores e lideranças.

Fit Cultural

Contudo, nas palavras Renata Horta, da Farmax, essa flexibilidade só é possível se a base cultural for sólida. “O FIT Cultural é parte importante do processo seletivo em qualquer tempo de carreira. Por isso, a cultura deve acompanhar a evolução da sociedade”, reflete a diretora de Gente e Gestão. Segundo ela, é essa evolução que garante que práticas que já não fazem mais sentido, como hierarquias desrespeitosas e comportamentos intolerantes, fiquem para trás. E, nesse processo, a participação ativa dos mais jovens é fundamental. “Convidar a nova geração para compartilhar de que maneira gostariam de ser envolvidos, tanto na construção dos traços culturais, quanto na comunicação, é uma forma de criar pertencimento desde o início”, diz.

E pertencimento também tem tudo a ver com protagonismo. Quando o colaborador percebe que sua criatividade é valorizada por meio de ideias e trabalhos autorais, já há um grande avanço na construção do senso crítico. Renata argumenta que, para romper esse padrão, é preciso mostrar que o caminho mais fácil – o da resposta pronta – nem sempre é o melhor. E é aí que a comunicação interna entra como aliada para. “Campanhas internas sobre o assunto podem esclarecer dúvidas e incentivar que as ferramentas de IA sejam utilizadas a partir da capacidade de questionar, analisar e interpretar informações e dados gerados”, sugere.

Ouvir e ser ouvido

Mas personalizar a comunicação interna para uma geração tão ligada às IAs não significa apenas atualizar canais, e sim transformar a experiência por completo. Esses jovens cresceram em um ambiente hiperconectado e estão acostumados a respostas instantâneas, o que exige uma abordagem ainda mais intuitiva. “Muito se fala em inteligência artificial, e acredito que ela deva estar presente nessa relação para facilitar o ingresso”, destaca Katiuscia.

Não à toa, uma preocupação essencial é garantir que a comunicação interna não seja apenas consumida de forma superficial, mas realmente assimilada, o que nos leva ao próximo passo: a adaptação dos formatos. Se esses jovens estão acostumados consumir conteúdos rápidos, interativos e sob demanda, a comunicação interna precisa se dinamizar para atrair e manter sua atenção. “Para ser ouvido, é preciso, antes de tudo, estabelecer uma conexão real. Ou seja, conteúdo e formato precisam caminhar lado a lado para que a mensagem chegue e seja assimilada da melhor maneira possível”, reforça a porta-voz da Zenvia.

Na prática, isso significa investir em abordagens multimodais, combinando vídeos curtos, gamificação, microlearning e até memes. As newsletters, por exemplo, usam memes para resumir a semana e deixam claro a prioridade da informação, categorizando os conteúdos como FIX (essencial), FLEX (pode ser consumido no momento mais conveniente) ou FREE (opcional). Para temas estratégicos, a empresa opta por vídeos curtos e agendas de desdobramento de estratégia e cultura, garantindo um espaço aberto para perguntas e respostas em tempo real. E para treinar novos colaboradores, a gamificação transforma o aprendizado em uma experiência mais envolvente.

Foto: Reprodução/Freepik

Construindo pontes

No fim das contas, comunicação é diálogo. Estratégias como essas só fazem sentido se a comunicação interna for, de fato, um espaço de troca. Por isso, uma das abordagens possíveis é descentralizá-la, permitindo que diferentes times e lideranças participem ativamente da construção da cultura da empresa. Para se conectar não apenas com a Geração Alfa, mas com todos os colaboradores, a comunicação interna precisa ser dinâmica, participativa e adaptável. Só assim as diferenças entre as gerações poderão ser equilibradas no dia a dia.

Para Renata Horta, da Farmax, a chave está na diversidade e no respeito mútuo. “Comunicar de forma transparente que há espaço para todas as pessoas é uma boa maneira de garantir tolerância e estimular as trocas e o aprendizado entre as gerações”, afirma. Na prática, cabe à comunicação interna a missão de aproximar analógicos e digitais, promovendo um ambiente onde a gestão do conhecimento fortaleça a perenidade da empresa. Mentorias, rodas de conversa e conteúdos produzidos pelos próprios colaboradores são alguns exemplos de como essa troca pode acontecer.

Outra dica valiosa de Renata para manter o engajamento em alta é monitorar continuamente as preferências dos colaboradores e ajustar a comunicação conforme as tendências e necessidades evoluam. Segundo ela, a matriz de comunicação precisa ser estruturada de forma estratégica, mas sempre com espaço para adaptações. “Entender a audiência é essencial para aprimorar a comunicação e fortalecer a marca empregadora. Pesquisas internas, grupos focais e análise dos canais ajudam a mapear expectativas e desafios, garantindo que a comunicação seja eficaz.” Com esses dados em mãos, as mensagens são alinhadas aos objetivos da empresa e às necessidades dos colaboradores, permitindo que a comunicação alcance o público certo, no momento adequado e pelo canal mais eficiente.

por Priscila Perez – 21/02/2025

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