No ambiente corporativo, gerações com histórias e vivências tão diferentes se encontram e, muitas vezes, colidem diante dos desafios tecnológicos. Quem começou a carreira nos anos 90 estava acostumado a máquinas de escrever e precisou se reinventar a cada avanço. Por outro lado, quem nasceu há 20 anos já cresceu com Wi-Fi e redes sociais, mas descobre que o smartphone, por si só, não resolve todas as demandas do mercado. Entre o esforço de atualização de um e o aprendizado inexplorado do outro, a comunicação interna encontra seu espaço: mais do que simplificar o complexo, ela conecta experiências e traduz a transformação digital em um idioma comum, promovendo um ambiente vibrante de aprendizado.
As IAs são um exemplo de ferramentas que já causam um certo estranhamento nas tarefas do dia a dia. ChatGPT, Gemini e Copilot são algumas delas, e agora temos a DeepSeek, a recém-lançada inteligência artificial chinesa, acrescentando mais uma camada de adaptação. No entanto, o desafio vai além disso: cada novo equipamento, software ou ferramenta de gestão exige um esforço adicional (e tempo) para ser compreendido e integrado à rotina, o que torna fundamental estabelecer um diálogo mais próximo com os colaboradores.
Superando dificuldades
Nesse contexto permeado por desafios, a comunicação interna pode fazer a diferença ao exercer sua empatia frente à transformação digital, identificando as dificuldades enfrentadas por eles e traduzindo esses avanços tecnológicos em narrativas significativas. Mais do que ensinar o “como usar”, ela explica o “porquê” dessas inovações, criando um ambiente onde dúvidas são acolhidas e o crescimento acontece de forma coletiva e sustentável.
Mas como garantir que esse diálogo seja genuinamente engajador em meio a tantas mudanças tecnológicas? A chave, segundo Wellido Teles, gerente de Comunicação Interna e Endomarketing da Ânima Educação, está no alinhamento com áreas estratégicas que também lidam diretamente com a transformação digital. “A comunicação interna precisa atuar em sintonia com as áreas de Gestão de Pessoas e Tecnologia, mantendo espaços para escuta ativa e feedback contínuo com os colaboradores, como grupos de discussão, pesquisas ou até mesmo focadas na avaliação do clima organizacional”, analisa.
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Não se trata apenas de mapear dificuldades ou pontos de resistência, mas antecipar problemas antes que eles se tornem obstáculos maiores. “Assim, é possível identificar as principais sensibilidades e, com isso, desenvolver planos de ação específicos para contornar ou melhorar um cenário”, reforça Wellido, destacando que essa proximidade também permite sentir a temperatura da empresa. Dessa forma, a comunicação interna consegue reduzir possíveis antagonismos ao processo de transformação digital, abrindo caminho para que a tecnologia seja percebida como uma aliada estratégica – e não como um desafio intimidador.
Para avançar, também é preciso mudar
Já parou para pensar que vivemos na velocidade 2x? A tecnologia avança tão rápido que, muitas vezes, nossa capacidade de adaptação não acompanha o mesmo ritmo. Parece um contrassenso, já que, em teoria, a evolução digital deveria facilitar o trabalho – e nos deixar menos estressados. Na prática, o que vemos são colaboradores sobrecarregados ou até alienados diante da quantidade de inovações. Para se ter ideia, um estudo da IBM, realizado em 2024, relevou que 64% dos CEOs ao redor do mundo acreditam que exista essa discrepância entre inovação e a habilidade de se adaptar a ela. Mas se não há como acelerar esse processo de adaptação, o que se pode fazer é garantir que esse caminho seja menos tortuoso – e é aqui que a comunicação interna assume um papel estratégico na transformação digital.
Segundo Karina Monaco, gerente sênior de Comunicação Corporativa da BASF para América do Sul, preparar a organização para essa jornada exige mais do que simplesmente apresentar novas ferramentas às pessoas. Mudar o mindset e introduzir novos hábitos demandam tempo, ainda mais quando a transformação pretendida impacta diretamente a cultura da empresa. “Além de tempo, exige um plano bem estruturado e visão de longo prazo para a divulgação e adoção de novas tecnologias de maneira rápida e descomplicada”, destaca.
Aprendizado estratégico
Mas para que essa jornada não se torne um labirinto sem saída, é essencial definir prioridades e oferecer um suporte contínuo ao colaborador. Com tantas ferramentas à disposição, a empresa precisa garantir que o aprendizado faça sentido a ele – caso contrário, o desengajamento será significativo. “Assim, ele vai analisar o que faz sentido para sua atividade e ver se realmente trará ganho de produtividade. Isso implica em priorizar o que deve ser aprendido, porque é praticamente impossível se adaptar a tudo que o mercado e a própria empresa muitas vezes disponibilizam”, reforça Karina.
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Além disso, aprender sozinho nem sempre é fácil. E é aqui que a empatia tecnológica entra em cena através da comunicação interna, atuando no dia a dia como a grande facilitadora desse processo ao traduzir a transformação digital. A porta-voz da BASF salienta que, com os canais e formatos certos, é possível não só identificar as dificuldades que os colaboradores enfrentam, mas também fornecer informações relevantes que lhes permitam trilhar seu próprio caminho. No fim das contas, a inovação só faz sentido quando as pessoas conseguem acompanhá-la. “A velocidade e o timing certo para comunicar também são cruciais nesse processo”, conclui.
Comunicação em ação
Porém, mesmo em ambientes positivos, muitos colaboradores ainda podem se sentir desconfortáveis – e menos confiantes – ao usar a inteligência artificial e demais ferramentas. A resistência ao novo é real e precisa ser quebrada com diálogo e feedback contínuo. Quando a comunicação interna assume um papel mais estratégico dentro da transformação digital, ela não apenas informa, mas ajuda a desmistificar conceitos e a reformular percepções, tornando a tecnologia mais acessível e aplicável no cotidiano.
Segundo Wellido Teles, da Ânima Educação, algumas ações são essenciais para garantir essa conexão. “Entre as estratégias válidas estão a realização de encontros interativos com especialistas na temática; desenvolvimento de capacitações e treinamentos; criação de materiais e conteúdo de apoio que abordem o uso de novos recursos; e a exploração de ambientes internos de colaboração, como redes sociais corporativas”, detalha. Mas, para que essas iniciativas gerem impactos reais, ações pontuais não são suficientes. Transparência, coerência e consistência formam um tripé indispensável para que a comunicação interna esteja verdadeiramente alinhada aos objetivos do negócio.
Compartilhamento de conhecimento
Na BASF, essa abordagem estratégica se traduz em iniciativas concretas que vão além da disseminação de informações. “Uma das estratégias mais eficazes neste contexto é a promoção de fóruns de discussão e trocas de experiências e vivências”, explica Karina Monaco. Em vez de simplesmente comunicar mudanças, a empresa aposta no diálogo e no compartilhamento de aprendizados e insights como ferramentas de engajamento, criando um ambiente onde os próprios colaboradores ajudam a moldar o entendimento sobre as novas tecnologias.
Para fortalecer essa troca e ampliar o alcance do conhecimento, a empresa também investe em iniciativas ágeis e direcionadas, como sessões informativas de curta duração, conduzidas por especialistas. O objetivo é tornar a adoção de novas ferramentas e processos algo mais prático e acessível, permitindo ainda que a comunicação interna seja constantemente refinada. “A alta frequência desses eventos garante amplo alcance entre os colaboradores, proporcionando oportunidades valiosas para a troca de informações, demonstrações práticas de casos de uso e esclarecimento de dúvidas”, destaca Karina. Além disso, a personalização desses encontros permite um atendimento mais preciso às necessidades de cada área ou perfil, tornando o aprendizado mais relevante.
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Cultura corporativa que incentiva a experimentação
Mas, convenhamos, de nada adianta a comunicação interna ser bem estruturada se a cultura corporativa não favorece a inovação – e, por consequência, a transformação digital. Criar um ambiente seguro para que os colaboradores se sintam encorajados a testar novas soluções e empreender projetos é um dos desafios mais complexos que uma organização pode enfrentar. Empresas que lançam novas ferramentas sem uma estratégia clara de engajamento podem se deparar com problemas de baixa adesão ou resistência do times. Por outro lado, companhias que incentivam um espaço de aprendizado e erro controlado, como programas de inovação aberta, conseguem transformar a experimentação em algo bem mais natural. Por isso, Karina é enfática ao destacar que qualquer incentivo à experimentação precisa estar alinhado a um plano integrado de comunicação interna. “Sem isso, o trabalho será muito difícil”, reforça.
Uma das soluções para vencer resistências é emplacar embaixadores dentro da organização, os famosos influenciadores internos. Mas, neste caso em específico, é essencial que eles sejam referência no uso de novas tecnologias, servindo como exemplo para seus colegas. “Por meio da identificação dos early adopters, é possível eleger porta-vozes que criarão conexão com os demais colaboradores. Tudo isso com o objetivo de desmistificar o uso de novas tecnologias, incentivando seu uso e até fazendo o papel de instrutores”, explica.
Além disso, o exemplo da alta liderança é fundamental para consolidar uma cultura de inovação – afinal, cabe a ela inspirar as equipes nessa direção. “É importante mostrar que as lideranças estão sendo as primeiras a adotar essas novas tecnologias em suas áreas. O exemplo de líderes ajuda a criar engajamento e motivação para que times se aventurem a usar”, conclui Karina. E isso faz todo o sentido, afinal, quando a inovação parte de cima e se espalha organicamente, o processo de transformação digital se torna mais natural e menos impositivo.
Falando alto e claro
Se toda mudança viesse acompanhada de um checklist para torná-la mais fácil de superar, certamente os pontos já mencionados estariam nele. Mas há um item que merece ser duplamente sublinhado: a clareza da mensagem. Traduzir o “desconhecido” exige empatia para que o diálogo não se transforme em uma sopa de termos técnicos difíceis de digerir. A comunicação interna precisa garantir que o discurso seja acessível a todos – pois, do contrário, a transformação digital será apenas algo bem distante. Basta imaginar um colaborador acostumado a navegar entre diferentes aplicativos no celular, mas que nunca precisou lidar com um sistema mais complexo. Se a mensagem não for bem estruturada, o risco é que ele fique à margem da inovação – não por falta de habilidade, mas por falta de conexão com o que está sendo proposto.
Para Wellido Teles, da Ânima Educação, o objetivo é justamente esse: assegurar que a tecnologia seja compreendida pelas pessoas. “O papel da comunicação interna é promover o desenvolvimento de um ambiente interno favorável ao bom entendimento e compreensão de tudo que envolve a realidade da organização”, resume. Isso passa por construir narrativas claras e acessíveis, tornando os conceitos mais palpáveis. “A meu ver, o trabalho é garantir que as mensagens e conceitos dessa temática se conectem com uma narrativa simples, cristalina e objetiva”, acrescenta. Para isso, formatos variados como vídeos, textos e conteúdo em áudio podem ser uma ótima escolha para facilitar a assimilação dessas informações.
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Contudo, não basta apenas explicar as tecnicidades; é preciso garantir que que as diretrizes que regem o uso dessas novas tecnologias sejam compreendidas pelas pessoas que as utilizam rotineiramente. Em um mundo em plena transformação digital, esse é um dos temas que a comunicação interna não pode ignorar jamais. Wellido Teles destaca que esse trabalho é crucial para que os colaboradores também entendam seus limites e implicações “Na Ânima, por exemplo, recentemente foi criada uma Política de Uso de Inteligência Artificial Generativa, idealizada pela equipe de Tecnologia, em parceria com a Diretoria de Compliance, que visa nortear o uso e desenvolvimento dessas tecnologias, a fim de estimular uma utilização ética e responsável”, explica. Ou seja, mais do que conhecer a tecnologia, trata-se aqui de usá-la com propósito, de forma consciente e alinhada aos valores da empresa.
Dica de ouro
Se a ideia é traduzir esse emaranhado de conceitos, muitas vezes abstratos, em mensagens simples e diretas, o melhor a se fazer é conhecer bem o seu público. Como bem destaca Karina Monaco, gerente sênior de Comunicação Corporativa da BASF, a chave para o engajamento reside em direcionar da melhor forma esse diálogo, trazendo para o debate a própria área de tecnologia. “Dessa forma, a comunicação pode se apropriar dessa linguagem e direcioná-la de maneira que faça sentido para o usuário mais iniciante e intermediário”, finaliza. Tudo isso é essencial para que as pessoas se conectem não apenas com as novas ferramentas, mas com o próprio propósito da transformação digital.
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